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Quem Decide? O Poder Oculto da Arquitetura de Escolhas

Essa semana, durante uma mentoria, discutíamos como pequenas decisões de layout e comunicação impactam silenciosamente o comportamento de colaboradores e clientes. Foi então que me lembrei de um velho conhecido nosso: o supermercado.


À primeira vista, ele parece alheio ao mundo corporativo. Mas observe com atenção: poucos ambientes foram tão meticulosamente desenhados para moldar decisões humanas. O supermercado é um campo de testes para a ciência comportamental aplicada e pode nos ensinar muito sobre como projetar escolhas também nas organizações.


Um supermecado e um escritório


Quem Está Escolhendo no Corredor 4?


Ao caminhar pelos corredores de um supermercado, acreditamos estar no comando de nossas escolhas. Mas essa autonomia é, em grande parte, uma ilusão cuidadosamente desenhada.


Desde a primeira loja de autosserviço em 1916, a experiência de consumo foi radicalmente transformada, não apenas para dar liberdade ao cliente, mas para guiar silenciosamente seu comportamento. Hoje, o supermercado moderno é um laboratório de comportamento aplicado, onde cada detalhe do ambiente é projetado para influenciar decisões.


Itens de alta margem estão na altura dos olhos porque o cérebro humano privilegia o que está mais acessível visuualmente. Leite e ovos estão no fundo da loja para nos obrigar a atravessar outras seções. Doces e revistas estão próximos ao caixa, estrategicamente posicionados para capturar a atenção quando a fadiga decisória já corroeu nossa resistência.


Esse design não é um acaso é arquitetura de escolhas*. Um campo da ciência comportamental que mostra que decisões humanas são altamente sensíveis ao contexto. Nosso cérebro, economizando energia, delega parte da tomada de decisão ao ambiente. E o ambiente responde... com intenção.


Do ponto de vista da neurociência, isso faz todo o sentido. O sistema de tomada de decisão rápida (Sistema 1, como define Daniel Kahneman) é acionado por estímulos visuais, recompensas imediatas e hábitos. Já o sistema deliberativo (Sistema 2) é mais lento e preguiçoso. Em ambientes sobrecarregados de estímulos, o Sistema 1 vence e escolhe o que foi previamente arquitetado para ser escolhido.


Importante destacar: isso não se limita a supermercados. Escritórios, plataformas digitais, salas de reuniões todos são ambientes moldados que influenciam comportamentos.


O problema não é ser influenciado isso é inevitável. O problema é não saber que está sendo. Quando compreendemos os mecanismos por trás da arquitetura de escolhas, passamos da passividade para a consciência. E só com consciência podemos restaurar a autonomia.


Na próxima vez que estiver no corredor 4, pare um segundo. Observe o que te cerca. Pergunte-se: essa escolha foi minha ou foi projetada para mim?


Se quisermos criar ambientes corporativos mais éticos, mais saudáveis ou mais produtivos, não basta apenas informar. Precisamos reprojetar. Porque o comportamento não acontece aleatõriamente ele nasce do ambiente em que é cultivado.


E no fim, toda decisão é uma coautoria entre você e o espaço ao seu redor.


*Arquitetura de escolhas é o campo da ciência comportamental que estuda como o ambiente em que uma decisão é tomada influencia o comportamento das pessoas.




Por Marcela Azevedo - Especialista em Gestão da Mudança e Ciência Comportamental | RH | 15+ anos de experiência em desenvolvimento organizacional, comportamento humano e transformação cultural.



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