O desengajamento silencioso que drena bilhões e poucos estão medindo
- Marcela Azevedo
- 25 de jul.
- 4 min de leitura
Atualizado: 27 de ago.
O termo quiet cracking nasceu em 2025, batizado pelos pesquisadores da TalentLMS, mas você provavelmente já viu o filme (ou viveu). É aquele colaborador que não chegou a pedir demissão, mas também não está mais aqui. Ele está no modo zumbi corporativo: entregando planilhas no piloto automático, dizendo “tudo certo” nas reuniões enquanto por dentro tá só o meme do cachorro cercado por fogo dizendo “this is fine”.

A questão é que esse não é um fenômeno de preguiça ou falta de profissionalismo. Muito pelo contrário. O quiet cracking atinge, com mais frequência, quem já se importou demais: quem trabalhou duro, acreditou no propósito da empresa e... se fechou em silêncio. Porque não foi ouvido. Porque não teve espaço pra crescer. Porque foi soterrado por entregas e reuniões.
O colapso do colaborador não é barulhento. Ele vem devagar. Começa com um “tanto faz” aqui, uma reunião ignorada ali. Um Instagram, LinkedIn visitado inúmeras vezes no dia. E quando você percebe, aquela pessoa que antes puxava projetos e sorria nas confraternizações agora evita o café da firma e desvia o olhar no corredor. Está no trabalho, mas não está.
Não é drama. É prejuízo financeiro.
Antes que alguém diga “ah, mas isso é coisa de geração mimimi”, vamos aos números.
Segundo a Gallup, empresas com times altamente engajados têm:
23% mais lucratividade
18% mais produtividade nas vendas
66% menos absenteísmo
Agora o lado sombrio da força: empregados desengajados (os crackers silenciosos) têm 18% menor produtividade, 15% menos lucratividade nas unidades em que atuam e um impacto invisível, porém real, sobre o moral da equipe. Eles não pegam atividades ... esperam, não inovam, não contribuem com ideias. Estão com o botão sobrevivencia no emprego acionado. Ele não pede demissão, porque precisa do dinheiro.
E tem mais: a Gallup estima que a perda de produtividade causada por profissionais não engajados ou ativamente desengajados custa à economia global US$ 8,8 trilhões por ano. 💰Sim, trilhões com "T". Isso equivale a 9% do PIB mundial evaporando em sorrisos forçados e e-mails respondidos sem vontade. 💸
Você deve estar se perguntando, qual este impacto na prática? Para uma empresa grande, esse tipo de desconexão pode significar até 4% da folha de pagamento desperdiçada. Ou seja, você está pagando caro para ter pessoas brilhantes atuando em modo avião. 💰📉
E o que causa esse tal de cracking?
Spoiler: não é falta de pizza day, ou VR baixo.
Os gatilhos são mais profundos, e geralmente começam assim:
Sensação de invisibilidade: o esforço não é reconhecido.
Estagnação: sem perspectiva de crescimento ou evolução.
Sobrecarga crônica: o famoso “só mais uma coisinha” que nunca termina.
Lideranças sem empatia: “gente é prioridade”, mas só no PowerPoint e nas reuniões.
Incertezas constantes: cortes, fusões, reestruturações, tudo sem explicação.
No fim, o colaborador não desiste do trabalho. Ele desiste de acreditar que algo vai mudar.
Como identificar um quiet cracker?
Não espere ver drama. Não tem cena de novela nem bilhete de demissão na mesa. O quiet cracking é silencioso. A pessoa continua entregando o básico, participa das reuniões, responde aos e-mails. (para você, ele esta trabalhando normal) Mas:
Para de propor ideias.
Evita interações sociais no trabalho.
Pede menos feedback ou o ignora.
Demonstra menos energia, mesmo nas atividades que antes amava.
Começa a dizer frases como “é o que temos pra hoje”, “tô só esperando algo melhor aparecer” ou “eu já desisti de me importar” ou "não concordo, mas bora fazer", etc.
Se você é gestora, pense em quem da sua equipe está sumindo em plena vista. E se você é colaborador, pense se não é você que está “desmotivado, desengajado” e tentando se convencer de que isso é só uma fase.
Marcela, dá pra mudar?
Sim. Mas não com brindes, slogans vazios ou workshops distribuindo post-it colorido com “você é incrível”, enviei um elogio para quem você admira.
Reverter o quiet cracking exige mais: (cada ponto abaixo tem inúmeras formas de fazer)
Escuta de verdade – não de auditoria. Escuta ativa, honesta, com vontade de agir.
Planos de crescimento claros – não promessas vazias.
Autonomia real – espaço para decidir, propor, desafiar.
Liderança empática – capaz de ler o que não foi dito.
Cultura que não romantiza o burnout – produtividade saudável não é maratona com cafeína e ansiedade. Ou "você precisa se provar mais"para ser promovido.
O silêncio que custa caro
O quiet cracking é o iceberg invisível que afunda resultados, estratégias e culturas inteiras. Não porque as pessoas são fracas ou desmotivadas. Mas porque são humanas. E não foram vistas a tempo.
Executivos, líderes, RHs: está na hora de parar de buscar “alta performance” como se ela viesse apenas de KPIs e dashboards. Ela vem de pessoas, conectadas e engajadas e você precisa refletir e construir apartir disto.
🚪🌱 PS: Quiet cracking não é o fim. É um alerta corporativo e também um convite à reconstrução. Espero que tenha gostado do texto e feito você refletir sobre o tema.
Comentários