O que estamos fazendo com o tempo que a IA está nos devolvendo?
- Marcela Azevedo
- 18 de nov.
- 3 min de leitura
A cada semana, estamos vendo, cada vez mais, colaboradores realizando em minutos o que antes levava horas. Relatórios que se escrevem quase sozinhos. Apresentações que se montam com três prompts bem-feitos. Análises que a IA entrega com velocidade e profundidade antes impensáveis.

Eficiência é, sem dúvida, uma das promessas mais sedutoras da inteligência artificial no mundo do trabalho. Mas há uma pergunta que precisa ser feita e rápido:
Esse tempo que estamos ganhando… vai servir a quem?
Quando a IA reduz o esforço de uma tarefa, ela nos devolve algo valioso: tempo. Mas tempo livre, sem intenção, vira tempo ocupado por urgências alheias.
Por isso, precisamos conversar sobre eficiência. Não como virtude isolada mas como escolha estratégica.
E isso começa com perguntas simples:
A IA está me ajudando a fazer essa tarefa em metade do tempo. Ótimo. E o que eu farei com esse tempo?
A automação reduziu o trabalho do time. Isso abre espaço para pensar ou apenas para fazer mais do mesmo?
Agora que a IA executa o operacional com perfeição… onde está o valor humano que eu quero ou preciso gerar?
Eficiência aumentou. Mas e a autonomia? O foco? A clareza de prioridades?
Sem essas perguntas, a eficiência nos engole. Porque no mundo corporativo, tempo livre não declarado vira tempo capturado. Quem não ocupa o próprio tempo com intenção, o verá ocupado por outros com menos valor e mais desgaste.
Eficiência precisa de foco. E de dono.
A questão não é só o tempo que a IA devolve, mas o tipo de trabalho que escolhemos proteger.
Porque se não formos intencionais, a lógica vigente vai prevalecer: Mais eficiência → Mais tarefas → Mais pressão → Menos presença. Ou seja: a inteligência artificial pode se tornar, paradoxalmente, uma catalisadora da desumanização, não por falha dela, mas por ausência nossa.
Cabe às lideranças redefinir o jogo: Transformar eficiência em decisão estratégica, não em corrida automática.
E deixar uma pergunta aberta, que deveria estar em toda pauta sobre IA, produtividade e cultura:
A eficiência que estamos conquistando serve a que tipo de futuro e a quem ela está servindo, de fato?
Essas são conversas essenciais quando a gente decide investir na transformação do negócio com inteligência artificial. A liderança precisa estar preparada para gerir esse novo tempo, e as empresas, prontas para repensar tarefas, alocar desafios e redesenhar o trabalho. Sem essa governança, o ganho de eficiência se perde.
A IA devolve tempo, mas sem direção, esse tempo vira ruído. E o resultado é previsível: mais reuniões, mais entregas, os mesmos resultados.
Como especialistas e líderes dessa transformação, precisamos reconhecer que não basta o letramento em IA. É preciso redesenhar a estrutura do negócio, repensar fluxos, responsabilidades e o próprio conceito de tempo produtivo. E isso começa em outro lugar: com a coragem de conversar sobre o que ninguém tem tempo de conversar.
Conversar sobre para onde esse tempo vai. Sobre o que faz sentido manter — e o que já pode ser deixado para trás.
Não é simples. Mas é urgente. E talvez o primeiro passo não seja desenhar uma nova estratégia, e contratar o sistema com IA… mas sentar com os time, fazer as perguntas certas e finalmente desenvolver as respostas.
Sou Marcela Azevedo, especialista em Recursos Humanos Estratégico, líder em transformação organizacional, cultura e gestão da mudança.






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